A nossa história começa aqui. Sentado mesmo. Estático mesmo. Sem dinâmica mesmo.
O autor só tem a escrever sobre o que está lá dentro. Recôndito. Interno mas transparente.
A nossa história começa com a Vontade. Mas não aquela de bala de coco caramelizada. Mas aquela que coça, que esperneia, que é mimada. A Vontade que não se cala. A Vontade que incomoda tal qual dor gástrica.
De nada seríamos sem a Vontade louca de viver. Vontade insana de se expandir. Vontade inescrupulosa de conhecer.
Comparemos, então, a Vontade às ligações covalentes dos átomos. Tal qual nitrogênio, é capaz de unir mais três elementos contaminados pela mesma incontrolável Vontade. Vontade do mundo. De tentar compactar o planeta num abraço.
Alertemos que a Vontade não é passível de controle. Qualquer remoto controle. Todo antígeno perece diante dela. E quando o corpo tentar contê-la por meio da dor, no instante seguinte ela lembra que é desvairada.
Chegada a hora, a Vontade levanta, coloca a mochila nas costas, veste o boot nos pés e nos encaminha para longe, bem longe daqui.
27 de dezembro de 2011
25 de novembro de 2011
21 de junho de 2011
"Mãe, to com diabetes e agora?"
Olho no olho. O silêncio só foi quebrado pelo impulso da mãe que puxou o filho pelo braço. No quarto, com uma agulha, espetou o dedo do menino, que uivou sem entender. Em seguida, fez o mesmo no seu polegar e misturou as duas gotas na superfície plástica de uma palheta.
"Mede agora, filho! Mede agora a glicemia!
A gente tá junto e não há que se preocupar..."
Olho no olho. O silêncio só foi quebrado pelo impulso da mãe que puxou o filho pelo braço. No quarto, com uma agulha, espetou o dedo do menino, que uivou sem entender. Em seguida, fez o mesmo no seu polegar e misturou as duas gotas na superfície plástica de uma palheta.
"Mede agora, filho! Mede agora a glicemia!
A gente tá junto e não há que se preocupar..."
20 de junho de 2011
Certa vez, lendo o dicionário, se deparou com o verbete
Mor.rer v.i. Cessar de viver, perder todo o movimento vital, falecer.
Não sabia conjugá-lo e, por não entender o processo, foi perguntar ao pai como fazia pra praticá-lo. O pai, inquisitivo, disse-lhe que era uma coisa muito ruim que acontecia com os adultos, quando tinham que ir embora e nunca mais poderiam ver os filhos novamente. Porque? Porque tem uma hora que o corpo da gente vai ter que parar de funcionar por algum motivo.
Ele não queria ir embora e se revoltou contra o seu corpo. Disse a si mesmo que iria enganar o próprio "morrer". Prometeu que iria encher seu corpo de tanta alegria que ele nunca iria querer parar de funcionar.
O menino morreu de felicidade.
Mor.rer v.i. Cessar de viver, perder todo o movimento vital, falecer.
Não sabia conjugá-lo e, por não entender o processo, foi perguntar ao pai como fazia pra praticá-lo. O pai, inquisitivo, disse-lhe que era uma coisa muito ruim que acontecia com os adultos, quando tinham que ir embora e nunca mais poderiam ver os filhos novamente. Porque? Porque tem uma hora que o corpo da gente vai ter que parar de funcionar por algum motivo.
Ele não queria ir embora e se revoltou contra o seu corpo. Disse a si mesmo que iria enganar o próprio "morrer". Prometeu que iria encher seu corpo de tanta alegria que ele nunca iria querer parar de funcionar.
O menino morreu de felicidade.
7 de junho de 2011
Hoje me perguntaram se eu acredito em Deus.
Eu sei que me foi perguntado porque é uma questão sem nível acusatório algum. Sem pretensões de discriminar ou interrogar. Um querer-saber irrelevante para o perguntador. É sim ou não (ou os dois) sem nem porquê.
Acontece que pra mim não. Acontece que quando tais palavras foram pronunciadas, naquela sala, pra ninguém ouvir, só eu e quem queria puxar assunto, minha garganta se enrolou num nó como aqueles quando a mãe pergunta se a gente quebrou a porcelana que ela tinha ganhado da vó no chá de panela. Aquele nó que a gente sente quando, em um esforço grego, a gente engole o choro pra se mostrar mais forte. Aquilo que faz a laringe quando a gente tem que falar pro nosso amigo que nossa amizade faleceu.
Não foi trivial. Nem me veio banalizada a pergunta.
Foi o primeiro momento, desde há muito, quando minha cabeça ainda queria poder entender os processos neurológicos, hormonais, sentimentais... Foi o primeiro momento que pude dizer, de peito aberto, consciência limpa e coração inflamado: sim, eu acredito. Então eu brilhei...
Eu sei que me foi perguntado porque é uma questão sem nível acusatório algum. Sem pretensões de discriminar ou interrogar. Um querer-saber irrelevante para o perguntador. É sim ou não (ou os dois) sem nem porquê.
Acontece que pra mim não. Acontece que quando tais palavras foram pronunciadas, naquela sala, pra ninguém ouvir, só eu e quem queria puxar assunto, minha garganta se enrolou num nó como aqueles quando a mãe pergunta se a gente quebrou a porcelana que ela tinha ganhado da vó no chá de panela. Aquele nó que a gente sente quando, em um esforço grego, a gente engole o choro pra se mostrar mais forte. Aquilo que faz a laringe quando a gente tem que falar pro nosso amigo que nossa amizade faleceu.
Não foi trivial. Nem me veio banalizada a pergunta.
Foi o primeiro momento, desde há muito, quando minha cabeça ainda queria poder entender os processos neurológicos, hormonais, sentimentais... Foi o primeiro momento que pude dizer, de peito aberto, consciência limpa e coração inflamado: sim, eu acredito. Então eu brilhei...
19 de janeiro de 2011
18 de janeiro de 2011
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