21 de junho de 2011

"Mãe, to com diabetes e agora?"

Olho no olho. O silêncio só foi quebrado pelo impulso da mãe que puxou o filho pelo braço. No quarto, com uma agulha, espetou o dedo do menino, que uivou sem entender. Em seguida, fez o mesmo no seu polegar e misturou as duas gotas na superfície plástica de uma palheta.

"Mede agora, filho! Mede agora a glicemia!
A gente tá junto e não há que se preocupar..."

20 de junho de 2011

Certa vez, lendo o dicionário, se deparou com o verbete

Mor.rer v.i. Cessar de viver, perder todo o movimento vital, falecer.

Não sabia conjugá-lo e, por não entender o processo, foi perguntar ao pai como fazia pra praticá-lo. O pai, inquisitivo, disse-lhe que era uma coisa muito ruim que acontecia com os adultos, quando tinham que ir embora e nunca mais poderiam ver os filhos novamente. Porque? Porque tem uma hora que o corpo da gente vai ter que parar de funcionar por algum motivo.

Ele não queria ir embora e se revoltou contra o seu corpo. Disse a si mesmo que iria enganar o próprio "morrer". Prometeu que iria encher seu corpo de tanta alegria que ele nunca iria querer parar de funcionar.

O menino morreu de felicidade.

7 de junho de 2011

Namoro em crise:

N1: QUE HISTÓRIA É ESSA QUE VOCE ESTAVA DE AGARRAÇÃO COM UMA MOÇA NO CARRO DO GERALDO???

N2: EU? NO CARRO DO GERALDO?

N1: VOCÊ! O CARRO DO GERALDO! E UMA SAFADA!

N2: QUE MENTIRA! QUEM TE FALOU ISSO? ERA NO CARRO DA FRENTE, POLIANA!
Hoje me perguntaram se eu acredito em Deus.

Eu sei que me foi perguntado porque é uma questão sem nível acusatório algum. Sem pretensões de discriminar ou interrogar. Um querer-saber irrelevante para o perguntador. É sim ou não (ou os dois) sem nem porquê.

Acontece que pra mim não. Acontece que quando tais palavras foram pronunciadas, naquela sala, pra ninguém ouvir, só eu e quem queria puxar assunto, minha garganta se enrolou num nó como aqueles quando a mãe pergunta se a gente quebrou a porcelana que ela tinha ganhado da vó no chá de panela. Aquele nó que a gente sente quando, em um esforço grego, a gente engole o choro pra se mostrar mais forte. Aquilo que faz a laringe quando a gente tem que falar pro nosso amigo que nossa amizade faleceu.

Não foi trivial. Nem me veio banalizada a pergunta.

Foi o primeiro momento, desde há muito, quando minha cabeça ainda queria poder entender os processos neurológicos, hormonais, sentimentais... Foi o primeiro momento que pude dizer, de peito aberto, consciência limpa e coração inflamado: sim, eu acredito. Então eu brilhei...