11 de setembro de 2012

Escrevo para tentar entender.


Na vida, posso vislumbrar dois tipos de relacionamentos. E me refiro, neste instante, aos fraternais porque a preguiça me inunda e não me permite dizer acerca dos amores shakespereanos.

Existe um laço fraternal que acontece pra crescer. E crescer somente, até a estagnação. É quando dois positivos se encontram e, pasmos com a tamanha similaridade dos polos, passam a se acompanhar. Giram, eles, em torno do mesmo núcleo e não se estranham.

Este tipo de ligação, em particular, tende à mesmice. Sempre estagnada, não há altos, ou baixos, e os momentos memoráveis dessa relação estão balizados pela normalidade. Quase como um padrão, regular como um aluno nota 8,0.

Por outro lado, existe um tipo de laço afetivo que se reconstrói de um desabamento.

Sabe esses prédios que, por algum motivo, são destruídos e, acima de suas cinzas, se ergue um castelo dos mais ricos e cimentado pela quase perfeição?

Este tipo de fraternidade nasceu de uma afinidade, sem dúvida, mas de um positivo e um negativo. Dois pontos divergentes que, muitas vezes, não circundam o mesmo núcleo, objetivo, padrão de vida. Mas, como num monitor de 22 polegadas que tem um pixel morto e toda a atenção do usuário é chamada para aquele mínimo ponto, existe uma convergência para o que chamam amizade.

Divergentes que são, esses dois polos acabam se estranhando em determinado momento e verificam que não há força alguma que os faça atraírem-se e permanecerem de braços dados novamente. Se perde no caminho aquela afinidade primeira, superficial que era, como muitas que se atreveram escapar quando se passa do módulo colégio para o módulo universidade.

Tem-se a impressão que “melhor assim” e que a decepção, ou o sentimento ruim que brotou dali, vai tardar a cicatrizar. Por vezes, o receio de cutucar o machucado, ou mesmo um segundo golpe onde já estava sensível, leva à reflexão que o afastamento é o melhor remédio. “Não há que se fazer esforço por um laço de amizade”, a cabeça raciocina.

Mas veja que os polos se reencontram. E, ora por esforço de um, ora por laissez faire do outro, verifica-se um recomeço.

Aqui, cada ladrilho é colocado com demasiada cautela, e, por vezes, hesitação.

Não estou desmentindo a máxima que afirma que confiança perdida é como uma jarra de vidro que se quebra, cujos caquinhos juntos não formam um novo recipiente com a mesma solidez que o antigo. Até chego a concordar quando me dizem. Mas na ressurreição desse companheirismo, observa-se um bem-querer que transpõe tal verdade, e lança mão dos artifícios humanos traduzidos em desconfiança, traição, mero coleguismo, orgulho, preconceito.

Só é possível explicar como transcedentalidade, o que acontece. A amizade que surge de uma decepção, quando o bem-me-quer é sincero, ultrapassa os limites da regularidade, da amizade morna. Aqui, a conversa passa a ser outra.

Digo isso tudo porque alguns dos amigos que mais me importo, que mais quero eternos e que mais desejo proximidade, renasceram. Foram implodidos e re-estruturados na humildade, na consideração e na admiração pessoal.

Com o tempo, eu aprendi que o amor não nasceu pra ser guardado. Muito menos tão somente recebido. E essa constatação me fez colocar pontes de hidrogênio nas estruturas de meus relacionamentos.

A tendência que rege o amor ruma ao outro. Não haveria que se falar em amizade, fraternidade e companheirismo se não houvesse o pai-de-todos amor. E este não sobreviveria se não existisse a quem prestá-lo.

Hoje em dia, não guardo amor pra não sedimentar açúcar.

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